Maruan Matheus Moreira saiu de Ponta Grossa com R$ 800 no bolso para desbravar o litoral brasileiro até São Luís (MA). No caminho, foi diagnosticado com diabetes, mas decidiu seguir viagem.
Maruan Matheus Moreira tem 26 anos e está viajando do Paraná ao Maranhão de bicicleta pelo litoral brasileiro. Ao todo, ele já percorreu 5,5 mil quilômetros e prevê pedalar mais cerca de 500 km.
Morador de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, o jovem saiu de casa em fevereiro com R$ 800 e se sustenta na viagem fotografando turistas e vendendo adesivos.
Em entrevista ao portal g1, Maruan conta que as ajudas de quem encontra pelo caminho não só contribuem financeiramente, mas mudam a própria visão de vida dele.
“Quando eu comecei a viagem, a minha ideia era realmente sair para conhecer os lugares que eu sempre sonhei conhecer. No decorrer, eu vi que a viagem é muito mais sobre pessoas do que sobre lugares. Eu fiz muitas amizades, conheci muitas pessoas boas no caminho”, afirma.
Com pouca experiência na pedalada, Maruan comprou a bicicleta exclusivamente para a viagem.
No primeiro dia, uma queda o fez gastar a maior parte do dinheiro que tinha com o conserto da bike. Na metade do trajeto, mais um obstáculo.
Sintomas o fizeram descobrir o diagnóstico de diabetes, as nenhum dos percalços impediram o jovem de curtir a aventura.
“Antes, eu só conhecia o Paraná e Santa Catarina. Meu sonho é viver viajando, então, essa foi só a primeira. Já tenho plano de fazer outra assim no Brasil e fora do Brasil”, afirma.
Neste sábado (4), o paranaense estava em Parnaíba, no Piauí. A intenção é, na segunda-feira (6), pedalar até Barreirinhas, no Maranhão, para conhecer os Lençóis Maranhenses.
Depois, Maruan vai até o destino final, São Luís, de onde deve voltar para o Paraná de avião.
O planejamento da aventura
Antes de cair na estrada, Maruan trabalhava como fotógrafo e motoboy. Conta que, de vez em quando, emprestava a bicicleta de um primo para ir a cachoeiras de Ponta Grossa e cidades da região, como Castro e Tibagi – que ficam a menos de 100 km de distância.
“A bicicleta sempre foi um meio de transporte, nunca fui ciclista. Fazia tempo que estava planejando uma viagem como essa, mas não sabia se ia ser de moto, de mochilão, pedindo carona. Como eu comecei a pedalar para cidades vizinhas, vi que o pessoal viajava de bicicleta e decidi”, lembra.
O planejamento começou com as compras: a bicicleta, uma barraca de acampamento e um saco de dormir estavam entre os itens considerados essenciais.
Maruan mora com os avós e dois irmãos, de 18 e 21 anos. Os jovens foram os primeiros a saber sobre os planos para a aventura. Os demais familiares foram comunicados só uma semana antes da partida.
“Ninguém levou muito a sério, acharam que eu estava brincando”, diz.
Ele saiu de casa no dia 23 de fevereiro de 2023 com R$ 800 no bolso.
Questionado sobre o planejamento financeiro, ele afirma que não queria que as preocupações o impedissem a realização do sonho.
“Não me organizei muito, porque eu pensava que se eu ficasse tentando juntar dinheiro sempre ia surgir algum imprevisto e eu teria que gastar esse dinheiro”, ressalta.
Na estrada, ele ganha dinheiro tirando fotos de pessoas em lugares turísticos e cobrando por isso. A venda dos adesivos que personalizou com o nome do próprio projeto, “Deixa a bike me levar”, também incrementa a renda:
A solidariedade ao longo do caminho
Sem prazo para voltar e sem rota definida detalhadamente, o jovem saiu de Ponta Grossa rumo ao norte do Paraná. Após passar pelo interior e pela capital de São Paulo, foi para Paraty, no Rio de Janeiro. Depois, focou em cidades litorâneas.
Na bicicleta, três conjuntos de roupas de tecidos finos, para facilitar a lavagem na mão e a secagem ao ar livre, utensílios de cozinha como fogareiro a álcool, panela e frigideira, e itens para acampamento, como barraca, colchonete e saco de dormir.
“Aqui no Nordeste eu aprendi a dormir em rede. Ganhei uma do dono de um restaurante de São Miguel do Gostoso [no Rio Grande do Norte] que deixou eu almoçar e jantar de graça todos os dias que fiquei na cidade. Agora, carrego a rede junto comigo na bicicleta”, conta.
Maruan afirma que na maior parte da viagem dormiu acampando na praia, em postos de combustíveis e no pátio de restaurantes que permitiam.
“Também fui muito convidado a dormir na casa das pessoas que foram me conhecendo. Meu perfil no Instagram que conta detalhes sobre a viagem ajudou muito nisso”, diz.
Descoberta da diabetes no meio do caminho
O tempo de estadia em cada local foi sendo definido de acordo com a impressão do viajante sobre os lugares e a receptividade tida em cada um deles.
Itacaré, na Bahia, foi onde ele ficou mais tempo: um mês.
Entre os motivos, o gosto pelo lugar, mas também um imprevisto: a descoberta do diagnóstico de diabetes, no final de junho.
“Durante viagem comecei a sentir alguns sintomas, como boca seca. Tomava muita água e tinha muita vontade de ir ao banheiro. Achava que era normal da viagem, da temperatura, porque não sou acostumado a esse calorzão aqui do Nordeste. Mas em Itacaré os sintomas pioraram. Fiquei com a vista embaçada por três dias e decidi ir no postinho [de saúde]. Minha glicemia estava em 360 mg/dl. O médico falou que era diabetes e comecei a tomar remédio, mudei a alimentação e estou conseguindo controlar – mas voltando pra Ponta Grossa eu tenho que investigar melhor isso”, relata.
Para ele, esse foi o pior susto.
“Nada de assalto ou roubo aconteceu. Pedalando tomei alguns sustos com caminhão e carreta em estrada que não tem acostamento, mas o único acidente foi no primeiro dia da viagem mesmo, quando sofri uma queda”, lembra.
A preocupação com a saúde fez o jovem optar pelo retorno de avião. A passagem está comprada para 22 de novembro.
Vontade de viajar só aumentou com a experiência, afirma
Pensando em toda a experiência, Maruan Matheus diz não saber indicar um lugar preferido de todos pelos quais já passou.
O que ele sabe é que, com a aventura, a vontade de desbravar mais lugares do mundo só aumentou.
“Minha vida já mudou completamente desde que eu saí de Ponta Grossa; minha visão da vida, pelo menos de saber valorizar mais as coisas. Principalmente as coisas pequenas, simples, e as pessoas também. Eu vi que têm muitas pessoas boas por aí e, geralmente, a gente não vê isso, vivendo assim no dia-a-dia. Quero viajar e viver isso muito mais”, afirma.
Por Millena Sartori
Fonte: G1